sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Um japonês qualquer, ou...

Personagem de número três:
Estou aqui planejando como contar esse sonho.
Sem começo, nem fim, apenas: Um japonês, uma tatuagem, a banda que eu gosto e um lugar estranho.
Um Japonês com olhos que mal se via, ­– me dava a impressão que ele andava no sol a todo instante. Alguns poros dilatados, um pouco de suor, um sorriso que mal se via.  Quando se via tinha um amarelado bonito. Tinha cheiro de cigarro, com uma camisa jogada no ombro de lá, uma calça um tanto quanto velha. – Velha e de cor preta, mas aquele preto de tanto lavar já começava a marejar a cor cinza. Uma tatuagem em um dos braços, uma pinta amarronzada, – clara, claríssima, mal se via se não reparasse. Um braço gordo, ou não, com alguns furinhos imperceptíveis de celulite, nada que não o deixasse interessante. O rosto era contraditório, ora era magro, ora gordo, dependia só do ângulo que olhasse. Cabelo com alguns fios brancos e com um corte estranho, um braço peludo, ou felpudo, – eu prefiro usar felpudo. Eram muitos fios naquele braço, todos de cor escura, mas era isso que dava um toque estranho nele.
Uma mão com dedos gordos, mal se encaixava nos meus, – estranhamente eu andava de mão dada com esse japonês estranho. Os dedos também tinham as pontas arredondadas e com a unha curta e um tanto larga. A barba era o que mais interessava, um corte estranho, era como se preenchesse todo seu rosto, mas tinha um faixa de barba, bem no meio de dois pequenos espaços raspados na ligação do queixo com a boca.
Uma tatuagem que precisava de retoque, isso se via de longe, me parecia àquelas tatuagens antigas que nunca fora retocada. O desenho era uma espécie de caveira, não aquelas que dão medo quando se olha, mas uma simpática, que seria até mesmo, eu diria cômica. Concordo, se outros olhassem não diriam isso, mas para mim ela estava sorriso, mesmo sendo um sorriso maléfico, era simpatizante. Não se repara em mais detalhes, só na simpatizante caveira, – os detalhes nem olhei, ou sonho não deixou, ou eu não quis tirar a simpatia do desenho principal.

A banda que eu gosto, se eu não me engano, foi a ultima banda que eu fiz questão de procurar ouvir de próprio punho. Não faz diferença, no sonho. Só tocara uma música o sonho todo, o tempo todo, só essa música. Eu até cantarolava atrás, baixinho, o japonês também.
Lugar estranho com pisos brancos, paredes brancas e um palco de madeira. Alguns instrumentos jogados no palco, alguns vultos cabeludos e barbados e o toque do som da banda que eu gosto. Poucas pessoas em volta, um espaço livre, algumas poltronas brancas. – Se eu acreditasse na existência do céu, eu diria que eu estava nele.
Algumas manchas nos azulejos brancos. Sujeira, talvez. Um bebedouro no canto, copos de plástico, garrafas de bebidas e alguns cigarros no chão. ­– Se eu acreditasse na existência do céu, eu diria que não parecia o céu nessa hora. As pessoas andavam pra lá e pra cá, algumas ficavam olhando para o palco, outras envolvidas pelo som até se arriscavam com alguns movimentos, outros mais tímidos ficavam no canto esquerdo conversando entre si, bebendo e olhando para o palco.
Mas eu sempre acordava quando ele, o japonês, queria começar a falar algo, e eu fico aqui querendo a saber o que era. Mas eu sei que eu posso nunca descobrir, então eu vou apreciando a suculenta curiosidade. Para sempre, ou não.

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