Apresentaram-nos. Disseram que você combina comigo. E que eu combino com você. Erraram.
Ele fumou a cada 25 minutos um cigarro, isso deu para notar. Ele se embola nas palavras, eu sou fria e racional. Ele se assustou com minha razão excessiva, ele dissera que esperava que o fosse “xingar” ou ser uma daquelas garotinhas de meia idade. Eu entendi.
Eu não sabia por que aceitei esse encontro, ele tinha manha. Conversa mole, daquelas que levariam qualquer mulher no papo, além de ter um charme que o destacava. Não combinávamos em nada, entramos no assunto música, falhamos, ele ouvia pagode, sertanejo e eu MPB e algumas outras. Falamos sobre gostos, ele gosta de balada e eu de um cinema caseiro. Eu gostava de café e ele de vinho. Era canceriano e eu geminiana. Ele era emocional e eu racional. Ele falava que eu tinha coração pedra, quase isso.
Ele tinha 25 e eu 15, ele não ia a igreja a 7 anos e eu fui ontem. Ele era vivido, eu nem tinha começado a engatinhar, eu sabia conversar e ele embolar, ele tropicava nas palavras e eu falava sem medo, nem dó. Ele gosta de discussões desnecessárias e eu não tenho mais paciência para isso. Ele dava pinta de galã e eu entrava nas estatísticas: mediana, cabelo um pouco abaixo no ombro, óculos de grau e quase sempre sem maquiagem.
Eu não queria um galã e ele, ah, sei lá o que ele quer. Eu queria o de sempre, o cheio de defeitos aceitáveis, aqueles que eu disse em um post perdido, o cheio de compatíveis manias e modo de pensar, aquele que com a idade que for aguentasse meus minutos em silêncio a cada estresse que eu viesse a ter. O que fosse estressado e chato, eu não sei. Eu gosto dos chatos e estressados, afinal eu sou chata. Ah, o que entendesse que eu não peço desculpas e que não pedisse desculpas para mim. Apenas que explicasse o porquê fez e pronto. Que suportasse meu humor irônico. Que não apertasse os dois botões para chamar o elevador, que suportasse meu medo de carros, que me deixasse rachar a conta algumas vezes e que ao menos, me deixe subir primeiro no ônibus. E que não discuta por bobeira, por favor.
E que suportasse e me “xingasse” a cada texto carente que escrevo, como esse por exemplo. Eu não tenho culpa de me apaixonar por defeitos toleráveis, mas eu sei que é bem melhor do que idealizar a perfeição. Ah, 23hrs, um texto como esse... Não é para fazer sentido, na verdade faz um sentido que poucos irão descobrir. Talvez nem eu venha descobrir.
23hrs01min: O café acabou e a sensatez fugiu.
Defeitos perdoáveis: Os de sempre, o que sempre encontrei o que sempre convivi, desde o ateísmo passando por outros diversos até o ciúme tolerável.