quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Saudade.

Lembrei com saudades das minhas merecidas palmadas e chineladas que levei durante minha infância. Levei em diversos lugares: No braço, na coxa... Onde o chinelo e a mão pegassem. Aprontava uma melhor que a outra, mas nada que fugisse do normal. Afinal quando eu levava umas daquelas broncas, eu me calava e simplesmente ouvia. Saudades dos castigos, de ficar ajoelhada por um tempo de frente a parede, por ter brigado com minha irmã. Mas não demorava muito e minha mãe toda derretida, vinha me dar um aconchego como se nada tivesse acontecido. E claro, era a melhor parte.
Corria de alguns castigos ou simplesmente soltava uma piadinha de criança que fazia minha mãe rir tanto, que até ela se esquecia do chinelo que havia em suas mãos.  Merecidas chineladas e palmadas, castigos. Ficavam umas marcas vermelhas, alguns até ficara em auto-relevo. Claro que nunca gostei, mas agora dá certa saudade.
Mas chegaram os meus 10 anos e minha mãe sentou e disse: “A partir de hoje, você é adultas. Não vou mais bater, brigar. Serão conselhos e você terá cabeça para decidir o que é melhor para você. E qualquer coisa errada terá sua consequência, mas não partira de mim ou de seu pai”.
A partir daquele momento eu iria ser obrigada a crescer, afinal além desse aviso também disse que eu teria que resolver meus problemas só, que não se preocuparia por causa do colégio e nem por notas. Pois a partir daquele dia, minha vida iria começar a ser trilhada por mim e eu apanharia da vida se fosse necessário. E deu certo, muito certo.
E hoje em dia eu lembro com saudade das palmadas, principalmente quando conversamos sobre a infância e como ela nos tratava. E confesso que ela ri como se não houvesse amanhã.
Discutimos ainda, certo que isso acontece raramente, acontece só quando eu discordo da “modernidade” de pensar que ela tem e quando ela reclama do meu pensamento “velho e careta”, mas agora sentamos e conversamos racionalmente e colocamos os pontos e acertos e erros. Mas o mais engraçado disso tudo é que hoje ela apronta tudo que eu aprontei no passado e ri. Ah, se ela soubesse o quão certo foi sua criação e mal sabe que sinto saudade, me ensinou tudo e ainda reclama que sou “careta” demais e que ela não me ensinou ser tão “velha” assim.
Mas sabe ainda não perdi a mania de criança de dar um beijo nela toda vez que coloco o pé na rua e de dar benção logo quando acordo e quando ela vai dormir. Mania que ela mesma disse que é ultrapassada, mas é a única coisa que resta da minha infância, além das lembranças, claro e da criação que minha mãe que era extremamente irritada (e que hoje não liga para quase nada, pelo ao contrario passa o dia cantando e rindo) e do meu pai que era e ainda é um poço de calma me deram. Porém, convenhamos o tempo faz um certo bem, pelo menos fisicamente. 

2 comentários:

  1. Bacana manter certas coisas no relacionamento pais e filhos. Em casa, as coisas foram bem diferentes. Apesar do meu pai demonstrar amor por nós, minha mãe já era bem diferente.
    Não que não goste de minha mãe, mas temos um relacionamento não tão amoroso, nem parece aquela coisa de mãe e filho. Me dava muito melhor com meu pai, tinha um sentimento totalmente diferente com ele.

    Beijão

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  2. Minha mãe sempre foi amorosa, super carinhosa, do jeito dela, claro. A minha relação com a minha mãe é um pouco diferente, compartilhamos segredos que ninguém além de nós sabemos. Meu pai sempre foi um tanto afastado, mas depois da sua doença ele ficou muito mais amoroso e eu muito mais cuidadosa. Hoje em dia confesso que trato meu pai como se ele fosse um bebê, porque eu realmente quase perdi ele. E é nessas horas que damos valor real para os pais.

    Beijos.

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