Desalinho

Você me desalinha, me estraga, me encanta, me derrete, me sufoca. Me faz perder o sentido de direção, o sorriso que vira choro, o choro que vira sorriso. Apaixonar.

Não estou apaixonada, não gosto desse termo. Esse termo desdobra, vira do avesso a gente. Que a gente não consegue se alinhar. Prefiro dizer quase encantada. Quase, porque eu não seria capaz de largar tudo por isso e talvez no dia em que eu largar, você esteja mais carrancudo do que hoje. Ou esse dia nem chegue.

Só de encostar em mim, todos os meus poros se dilatam, sobe o frio pela barriga, a perna bambeia. Não na mesma ordem, não que isso aconteça. Mas por dentro são essas as sensações, eu não sou do tipo que perde o controle, o controle físico ao menos.

Arrumo meu jaleco, pego as luvas, a máscara, a touca, o par de pro-pé. Me visto, entro no laboratório e troco a formulação e erro a consistência do remédio. Foi quase isso que aconteceu no "nosso" primeiro dia, tirando a parte em que errei a formulação. E fiquei imaginando você em outra sala, mexendo com softwares, códigos e tudo que é um saco pra mim, mas pensando bem, até que olhar o seu laboratório daqui do meu, não é tão pé no saco assim.

Você é do jeito que eu gosto ou como dizem é o meu "tipo", com aquela barriguinha, que encaixa perfeitamente na minha lombar (todo mundo sabe que eu odeio musculosos). A barbixa, - não sei como se chama aquelas barbas no queixo - se duvidar dá até para fazer uma mini trança, mas eu gosto. Gosto das cocegas do pescoço, mesmo você ficando com cara de guerrilheiro, eu gosto de tudo. Sem dúvidas.

Poderia ficar aqui fora, esquecendo meu armário destrancado, sentindo seu gosto até amanhã de manhã. Mas sabemos que isso não vai acontecer, acho que minha formação, minha profissão ainda vem na frente. Isso pode mudar um dia, mas enquanto não muda. Espero.

Quando eu posso me sentir:

Sufocada.

Arranhada.

Encantada.

Derretida. 

Congelada.

Feliz e um tanto quanto poeta de boteco (que não sabe mais nem o que escreve).