Acordei com dores nas costas, com uma cara amassada e
procurando pelos meus cigarros. Não tinha. Sai de casa, fui à padaria comprei
meus cigarros, três médias e voltei.
Tomei meu café e o telefone tocou:
– Alô – Eu disse um pouco embebedado pelo meu sono que não
passara.
– Bom dia, senhor Marcelo? – Era aquela voz de novo, amarga
e doce ao mesmo tempo. Era a secretária do Carlos. Aquela que os fios saiam descolando
um por um.
– Sim, pode falar? – Disse, espantado, mas disse.
– Seu perfil foi aprovado. O senhor pode comparecer depois de amanhã ás 14:00 horas? – Ela me irritava com aquele português correto, eu tinha
vontade de, quem sabe, a xingar.
– Sim, posso sim.
– Ok. Tenha um bom dia.
– Você também. Obrigada.
Desliguei um pouco feliz, na verdade, bastante feliz na
verdade, mas se alguém tivesse olhado meu semblante naquele momento diria até
que eu estava morto. E sabe. E bem, eu estava morto naquele momento.
Cai na cama e dormi.
Mais tarde. (Duas horas depois, para ser exato.)
Acordei e me peguei pensando na Lívia o que era estranho,
muito estranho. Peguei um cigarro, fui para sacada, olhei para baixo e lá
estava Lívia. Eu dei um sorriso. Pensei em ir até ela. Mas estava tão linda
daqui de cima, que eu até me esqueci de como se pega um elevador.
Parecia que ela estava esperando alguém. E estava. Um rapaz
de uns 25 anos ou menos se aproximava carinhosamente e tascou-lhe um beijo em
sua boca, sim, aquela boca que mais parecia um rádio quebrado de tanto que
falava. Aquela boca um pouco dentuça e que tinha uma perfeita e estratégica
pinta no canto.
Meu coração balançou,
meus olhos lacrimejavam quando vi essa cena.
Isso não podia estar acontecendo. Eu um homem de 33 anos, não posso ver uma
garota e me apaixonar assim... Do nada. Só tomei um café. Um café horrível por
sinal. (Não posso voltar a ser um adolescente que se apaixona platonicamente.
Se eu acreditasse em destino... Ah se eu acreditasse. Seria um destino um tanto
quanto cretino)
Coloquei o cigarro no cinzeiro, tomei um banho gelado e fui
para um bar. Tomei um porre daqueles, enchi a cara. (Eu não fazia isso há
anos!) Afoguei as minhas mágoas com um cara do bar.
Cheguei à minha casa, cai na cama e dormi mais uma vez.
No outro dia. (Uma quarta-feira qualquer de 1995)
Acordei no dia seguinte, com uma dor de cabeça insuportável,
tudo doía. Os latidos dos cachorros da rua pareciam explosões dentro da minha
cabeça.
Tomei um segundo
banho e eu olhei pela sacada. Não havia mais ninguém, exceto a neblina cobrindo
o céu de branco. Estava morto outra vez.
Sai de casa, sentei em um parque da cidade, estava tossindo,
espirrando e com saudades daquele café frio e amargo, que tomei... Uma vez só.
Havia neblina na rua, mal se via o sambista boêmio cantando
seus sambas no outro lado do parque, mal se via os namorados que estavam sentados
sobre a grama. Mal se via uma moça vinda de longe, eu só conseguia olhar seu
contorno, pelo que pude perceber era magrela, pequena e andava um tanto quanto
torta. Não liguei pra ela. Mal reparei.
Olhei para o chão, fiquei pensando. Reparei até em formigas
andando em fileira, desviando de pedrinhas. Estava completamente disperso.
Uma moça sentou do meu lado, eu podia sentir sua respiração constante
ao meu lado. Não levantei o rosto, por vergonha... Talvez.
Depois de um tempo ouvi uma voz baixa, aguda e um pouco
irritante, era a voz da moça sentada ao meu lado. Cantarolava baixinho o ritmo
do samba que o velho boêmio cantava “La ra la ra, lã rã lã rã”. Levantei o
rosto, olhei um pouco com um olhar ainda voltado para o chão. Era Lívia, ela deu
um sorriso, abaixou a cabeça, por também vergonha... Talvez. Eu repeti,
abaixando minha cabeça e dando um sorriso envergonhado para o chão. Mas nada me
tirava à cena que vi em outro dia.
As mãos de Lívia estavam estiradas no banco de concreto, as minhas
também. Estavam com uma considerável distancia uma da outra. A dela chegara
mais perto por alguns momentos, mas quase não reparei, voltei a olhar os
insetos que ali sobreviviam. Estava disperso mais uma vez.
Havia silêncio no nosso banco.
Alguns minutos se passaram nada me acordava do transe que estava
naquele momento, por medo de puxar assunto... Não sei. Algo tocava bem devagarzinho
em minha mão, era uma coisa macia e encharcada de creme. Mas logo esse toque sumia,
deixando o suor de creme em minhas mãos, logo a mão da Lívia fugia do encontro
com a minha.
Ficamos sem falar por horas, o tempo todo sem nenhum sequer
som produzido por mim ou por ela. O que era estranho. Foi então que Lívia se
levantou, deu-me seu último sorriso, deu sua ultima palavra.
– Tchau! Boa noite, Marcelo...
Antes de virar as costas pra mim, deu-me um beijo surpresa
na minha bochecha direita, o que me deixou um tanto quando encabulado. Então
ela foi sumindo na escuridão que tinha se formado, desparecendo devagarzinho,
bem devagarzinho.
Fiquei pelo parque por mais uma hora, sei lá, voltei para
casa. Cai na cama e dormi.
Estava vivo mais uma vez.
Por: @juugs_
Marcelo: 02
Nunca desista!
ResponderExcluirFicou diferente, algo mudou, não consigo dizer exatamente o quê. Mas gostei, o modo como prosseguiu a história ficou bacana, talvez um pouco curto, mas ficou bem interessante!
Aguardo o próximo querida!
Beijão
Esse seu personagem me encantou! E eu fico querendo ler mais e mais...
ResponderExcluirEu gostei!
ResponderExcluirVai ter mais desse cara?
Yama: Não desistirei. HAHAHA. Esse texto eu só coloquei um pitada de surrealismo, porque eu gosto de coisas um quanto tanto psicodélicas. Ficou curto, porque eu ando sem tempo nenhum,principalmente agora que apareceu algumas coisas que tomaram meu tempo. ^^
ResponderExcluirBruna Morgan:E eu fico feliz com isso. HAHAHA *-*
Luna Sanchez: Obrigada, sim, vai ter mais dele ainda. Tem mais algumas tantas partes da historia que ainda não falei. ^^