quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Quiosque 41

Another Day by Dream Theater on Grooveshark

Ele tem exatamente duas manchinhas no olho esquerdo, um bigode chinês de dar inveja aos sorridentes antigos de plantão, era magro, mas a gente percebia uma barriga saliente na marca da camiseta que ele usava.  Camiseta que era de uma banda que ninguém conhecia, nem o próprio Google conseguiu achar. Era alguma coisa com final "g", - deve ser uma banda dessas que ninguém gosta, mas que ele gosta - tinha uma mancha branca nas unhas, em cada uma delas, menos no dedão que tinha duas.

Andava meio curvado e das poucas horas que vi ele sem camisa tinhas umas pintinhas espalhadas por lá, não deu para contar todas, mas parei na vinte e sete. Sou perita em achar defeitos minúsculos  não para achar feio, não para desgostar das pessoas e que quanto mais defeitos físicos e manias estranhas, mais eu me sinto atraída, mais eu quero descobrir a pessoa e bem... Uma coisa leva outra - interpretem da maneira que quiserem. Bem, eu tinha encontrado o homem mais bonito do mundo - ou pelo menos o daquele barzinho, perto do quiosque 41.

Era um estilo "mod", caladão, com cara arranhada e parecia tão sério... Que só de olhar para os olhos dele, minhas pernas já tremiam de medo, - ou de curiosidade sobre o que mais de errado ele tinha - devo ter ouvido sua voz umas duas vezes, no máximo, mas eu sabia que aquela mente devia falar tanto. 

O telefone tocou, ele saiu da roda de amigos falantes - que por sinal, falavam mais que a boca - e atendeu atrás do quiosque. O toque do celular é tão baixo que acho que ninguém da sua mesa  percebeu que ele havia saído. Esperei.  Ele volta, se senta. E continua observar todos ali. Sem dúvida era o homem mais bonito dali. Eu fiquei na dúvida sobre a sua idade, fiquei entre 25 e 30 anos. Não dá pra saber, ele faz e desfaz caras, uma hora parece jovem, outro um cara maduro, carrancudo... Ele é daqui ou da cidade de São Paulo? Carioca? Acho que não. Mineiro? Muito menos. 

Era discretíssimo. Todas as mulheres desejavam aquele homem, até os homens desejavam ser aquele homem. E eu queria fazer um soneto do teu corpo, uma pericia por ele todo só para descobrir defeitos. Mas descobri que não sei fazer nem prosa ou poesia, muito menos um soneto. 

Ele some e aparece diversas vezes, eu o vi semana passada e hoje peguei um ônibus com ele. Olhou pra mim com uma cara metade simpática e metade séria. E mais defeitos apareceram, seus dedos eram largos, pequenos, mas largos. Ele tinha uma pinta da bochecha direita, redondinha, parecia um caroço de Umburana. E seu cheiro, era testosterona pura, testosterona avaliada e aprovada no Inmetro, aquele cheiro que atrai as mulheres, puxa tanto, que parece que nós somos taradas. Deve ser esse o segredo. 

Falei baixinho enquanto olhava pra ele "vai ser bonito lá na casa do caralho" e não é que ele era bonito lá mesmo. Pensei em ir até lá, mas sabe que prefiro ficar aqui com meu copo de chá de folha de goiabeira e escrevendo sobre ele. Vai que um dia, ele se muda e fica mais perto. Ou vai que ele rende uma história mais interessante que essa.

2 comentários:

  1. Fantástico o modo como conduziu essa história. Gostei dessa forma descontraída, ficou realmente muito gostoso de ler.

    Estava com saudades dos seus textos, daqueles enaltecidos que costuma escrever sempre, como sempre digo: Nunca pare de escrever. Espero uma certa frequência, mas sei o quanto não é fácil mantê-la.

    Beijão

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  2. Obrigada! Acho que a criatividade veio apesar de tudo. =D

    Eu estava com saudades de escrever, realmente é muito difícil. Eu mal fico em casa, é só na hora do almoço e só volto de madrugada. E geralmente eu chego detonada que não tenho vontade nem de jantar. Mas prometo escrever pelo menos um por semana. Agora que tenho meus sábados livres tudo ficará mais fácil! HAHAHAHA

    Beijos!

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